Confesso que ainda não estou completamente à vontade para falar do Conselho Nacional de domingo. Estou ainda atarantado. Tentarei pôr as coisas no sítio, e expurgar com este post o que me vai na alma.
No domingo o CN do CDS reuniu para, como alguém lá disse e muito bem, decidir como seria eleito o próximo líder do partido. Foi o próprio ReC, na reacção à declaração de Paulo Portas de 1 de Maio que declarou aberto o Congresso do CDS, implicitamente pondo o seu cargo à disposição. O contrário seria estranho, quando o vimos fazê-lo no passado sem que ninguém o disputasse.
Não sei quantas horas se passaram para que começassemos a discutir isso mesmo. Foi o filme todo com a proposta de Leiria que condicionava o CN a tomar uma decisão que enquinou o primeiro quarto do CN. Estivemos tempo demais a discutir o que não interessava para o CN: se uma condição nesse abaixo-assinado podia ou não ser aceite. A mesa achava que devia ser o CN a decidir, quando o CN não estava reunido para tal efeito, nem tinha condições de apurar se assim era. De referir que se o CN quisesse acabar com esse filme, decidia que a condição não seria válida, e acabava-se já com o filme, porque, evidentemente, sem aquele parágrafo invalidavam-se as assinaturas que não se podiam assumir assinar o mesmo documento sem um dos seus parágrafos.
Adiante, tal como este post, já o CN ia longo quando se começou a discutir política. E tivemos três intervenções "normais": duas de Rec e uma de Portas, sobre as alterações estatutárias, conforme ordem de trabalhos. Quando Portas entrega uma sua proposta de alteração de estatutos ao CN, recomeça a confusão. Que não podia ser, que não havia tempo, que tinha de ter sido com cinco dias de antecedência, etc, etc. A mesa decidiu não aceitar a proposta, quando havia interpetações várias que se podia aceitar sim senhor. E, pior, não aceitou recurso da sua decisão, o que era verdadeiramente impensável. Afinal, é o CN que é soberano, ou é a mesa? Se havia interpretações várias, não seria o CN a dever decidir? Mais, se a norma da entrega de certas propostas é de cinco dias (digo certas, porque esta não se enquadraria), para que se possa ler e pensar, não deve ser o CN a decidir quanto tempo quer?
Aí acontece o momento de viragem, que mostra bem o carácter de quem protagonizou este CN. é que no momento em que a mesa decide não deixar recorrer da sua decisão, vem à baila a única soulção para que fosse dada voz aos conselheiros: acena-se com a censura da mesa. E nesse momento, qual magia, a mesa decide aceitar que se votem as directas. I.e., no momento em que a sala (e via-se, e ouvia-se) se prepara para demitir a mesa, esta decide, finalmente, tomar uma decisão que parece ir no sentido da vontade dos conselheiros.
Aí já teriamos passado mais de dois terços do tempo, para nada...
A votação foi imensamente demorada, antecedida dum intervalo interminável. Mas no fim deu-se o resultado previsto: o CN marcava eleições directas tal como o fizera em Gaia (decisão que, não deixa de ser curioso, já era apelidada de ilegal por elementos da CPN do CDS - sim, dos que ainda continuam do lado de ReC). Por fim se fazia algo de útil.
Mas enganaram-se os que achavam que nesse momento se passaria a marcar calendário para essas directas e para as comissões de organização das mesmas.
Nesse momento a presidente da mesa toma a palavra para algumas considerações que me esqueço, Portas vai falar e MJNP volta ao púlpito para anunciar o fim do CN. Portas ainda tenta o evidente: recorrer de tal inopinada decisão, mas a mesa e parte da CPN já tinham as malas feitas e corriam para o exterior.
Criou-se uma enorme confusão, empurrões, pessoas que caíram ao chão, insultos e muito pouco bom senso. Isto é explicável, ainda que não desculpável, pela atitude da mesa (e é explicável pelo vortéx de pessoas que se tenta enfiar por uma porta para sair rapidamente, duma forma nunca vista). O CN não podia acabar ali, porque a mesa não pode acabar o CN sem este querer. Se assim fosse, sempre que as coisas corressem ao contrário do que nós (leia-se, a mesa) queríamos, acabaríamos com os trabalhos e esperaríamos por outra ocasião que nos fosse mais favorável, quem sabe ad eternum. Creio que eramos 137 os que ficámos e assinámos a folha de presenças após o abandono da mesa e parte da CPN do CDS dos trabalhos.
Foi assim, não me traia a memória. E sendo que é inaceitável o que se ouviu chamar à senhora presidente da mesa no final, ou que disseram de António Pires de Lima ou a forma como se deixou naufragar o CN, certo é que dificilmente se pode considerar a vontade duma larga maioria de conselheiros como um golpe de estado ou uma opa ou o que valha. Mas já sabemos o que vem a seguir: está nos livros desta CPN. Conselho Nacional em Bragança ou noutro local inóspito para que baixe a adesão dos que não vivem do partido e assim tentar que se diminua a maioria de Óbidos. É muito triste.