sábado, 21 de abril de 2007

O CDS: O PASSADO, O PRESENTE, E O FUTURO

No Sábado será a altura para os militantes do CDS escolherem quem querem ver como presidente do seu partido. Pela primeira vez, poderão fazê-lo de forma directa entre dois candidatos, dois projectos, e duas formas de liderança.Será, com toda a certeza, um passo muito importante para a maturidade do CDS, cuja história se confunde com a da democracia portuguesa.
Apesar dos excessos linguísticos e de confrontos estéreis que se tem sentido nos últimos dias; apesar da polémica quanto a um método que já tinha sido experimentado de uma forma quase plebiscitária; acho que esta mudança vale a pena. Pode constituir o primeiro momento de viragem rumo à necessária transformação do espaço do centro – direita, ou da direita para os geometricamente mais puristas.Após 2005, ficou claro, por via dos resultados eleitorais, que o peso sociológico da esquerda cresceu de forma consolidada.
De facto, o Partido Socialista conquistou, pela primeira vez, uma maioria absoluta, e o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda passaram a representar aproximadamente 15% do eleitorado. Dois anos depois todos os estudos de opinião – independentemente de conjunturas concretas – continuam a demonstrar essa tendência. É hoje evidente, passado este tempo, que o país não mudou de opinião. Para isso muito tem contribuído um Primeiro Ministro com uma imagem milimetricamente trabalhada de determinação e reformismo, e uma esquerda atenta aos novos problemas sociais, especialmente sentidos nos meios urbanos.É perante este cenário que os militantes do CDS têm de fazer uma escolha de natureza subjectiva: saber quem é o líder mais adequado a esta situação, ou quem é o líder capaz de agregar o Partido perante os novos desafios. Perante a opção do momento não tenho dúvidas em escolher Paulo Portas. Faço-o por razões relacionadas com o passado, o presente, e o futuro.
A base passada é clara. Recordo-me bem tudo o que foi necessário para retirar o partido de uma posição marginal no sistema. Com a liderança de Manuel Monteiro, o CDS era anti europeísta, anti políticos, e tinha um discurso de um radicalismo marcado.
Foi com a liderança de Paulo Portas que foi possível recolocar o partido nos trilhos que rejeitam o nacionalismo serôdio do “galo de Barcelos” e dos “jaquinzinhos”, e optar pela aceitação e incentivo a um modelo de construção europeia com crescente poder politico institucionalizado. Foi com Paulo Portas que o partido rejeitou o discurso dos privilégios – típico da esquerda mais radical – e o colocou de novo no arco da governabilidade. Foi com Paulo Portas que o CDS apresentou propostas de reformas moderadas em áreas como a segurança social, a educação, a segurança, ou a competitividade fiscal. Foi com Paulo Portas que o CDS readquiriu o peso eleitoral e político, que lhe permitiu fazer parte de modo estável no Governo de Portugal.Também faço esta escolha por razões de 2007.
É necessário que em Portugal se volte a dizer que há oposição ao Partido Socialista. É fundamental que apareça uma liderança que motive o aparecimento de um discurso adequado aos dias de hoje, seja na matéria, seja na forma. As preocupações da sociedade no século XXI são bem diferentes das que existiam há 20 anos atrás. O mundo não parou perante pretensas superioridades de natureza doutrinária ou ideológica.
É importante que apareça um partido a fazer propostas na área empresarial - assumindo um Estado que muito deve regular e pouco deve intervir – e que queira terminar o processo de privatizações; um partido que discuta áreas como a justiça, em que se tem de inovar, através da defesa, de meios de resolução alternativos de litígios; um partido que assuma a necessidade de uma politica cultural através de opções activas de incentivo, apoio à divulgação da nossa língua, e maior ligação à área da educação; um partido que alicerce nas áreas sociais um verdadeiro serviço público em que haja liberdade de escolha, não limitada por razões da natureza geográfica; ou por fim, um partido que exponha soluções favoráveis a uma maior natalidade, defesa da família, da ideia do poluidor pagador, ou do controle da informação que é dada aos consumidores.
O centro-direita, em Portugal, precisa de uma cara diferente que combata de igual para igual José Sócrates. A sua competição fará crescer a nossa área e diminuir a força eleitoral da esquerda.
Mas há também, para a minha opção, razões de futuro. Este espaço político precisa de um projecto inovador, de fôlego, de contemporaneidade, e de paciência. Necessita de fazer um combate cultural intenso. Para isso é essencial constituir um edifício sólido e reformista cujos horizontes temporais ultrapassem os actos eleitorais. Vai ser necessário muito tempo. Já chega de assumir aquela ideia de acordo com a qual a razão nos acompanha há muito. É necessário responder ás questões que hoje as pessoas colocam. É imperioso acompanhar as tendências de pensamento que pela Europa fora têm feito com que o centro direita vá recuperando o poder.Por todas estas razões fiz a minha opção. Outros terão motivos diferentes e soluções contrárias. É natural que assim seja.

Diogo Feyo no Nortadas

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